Um pouco mais sobre o Mestre dos Mestres...
Muitas pessoas, incluindo intelectuais, comportam-se com elegância quando o mundo os aplaude,
mas perturbam-se e reagem impulsivamente quando os fracassos e os sofrimentos cruzam as avenidas de suas vidas. Não conseguem superar suas dificuldades nem mesmo extrair lições de suas intempéries.
Houve um homem que não se abalava quando contrariado. Jesus não se perturbava quando seus
seguidores não correspondiam às suas expectativas. Diferente de muitos pais e educadores, ele usava
cada erro e dificuldade dos seus íntimos não para acusá-los e diminuí-los, mas para que revisassem suas próprias histórias. O mestre da escola da vida estava menos preocupado em corrigir os comportamentos exteriores e mais preocupado em estimulá-los a pensar e a expandir a compreensão dos horizontes da vida.
Era amigo íntimo da paciência. Sabia criar uma atmosfera agradável e tranqüila, mesmo quando o
ambiente à sua volta era turbulento. Por isso dizia: “Aprendei de mim, pois sou manso e humilde...”.
Sua motivação era sólida. Tudo ao seu redor conspirava contra ele, mas absolutamente nada abatia
seu ânimo. Ainda não havia passado pelo caos da cruz. Sua confiabilidade era tão sólida, que de antemão proclamava a vitória sobre uma guerra que ainda não tinha travado e que, o que é pior, enfrentaria sozinho e sem armas. Por isso, apesar de ser ele quem devesse ser confortado pelos seus discípulos, ainda conseguia reunir forças para animá-los momentos antes de sua partida, dizendo: “Tende bom ânimo, eu venci o mundo”.
Muitos psiquiatras e psicólogos possuem lucidez e coerência quando discorrem sobre os conflitos
dos seus pacientes, mas quando tratam dos seus próprios conflitos, perdas e fracassos, não poucos têm sua estrutura emocional abalada e fecham as janelas da sua inteligência. Nos terrenos sinuosos da existência é que a lucidez e a maturidade emocional são testadas.
Ao longo da minha experiência como profissional de saúde mental e como pesquisador da
psicologia e educação, estou convencido de que não existem gigantes no território da emoção. Podemos liderar o mundo, mas temos enormes dificuldades em administrar nossos pensamentos nos focos de tensão. Muitas vezes temos comportamentos descabidos, desnecessários e ilógicos diante de
determinadas frustrações. O mestre da escola da vida sabia das limitações humanas, sabia que nos é difícil gerenciar nossas reações nas situações estressantes. Tinha consciência de que facilmente erramos e de que facilmente punimos a nós mesmos ou aos outros. Entretanto, queria de todo modo aliviar o sentimento de culpa que esmagava a emoção e criar um clima tranqüilo e solidário entre os seus discípulos. Por isso, certo dia, ensinou-os a se interiorizarem e orarem, dizendo: “Perdoai as nossas ofensas assim como temos perdoado aqueles que nos têm ofendido”.
Quem vive sob o peso da culpa fere continuamente a si mesmo, torna-se seu próprio carrasco e, de
outro lado, quem é radical e excessivamente crítico dos outros torna-se um “carrasco social”.
Na escola da vida não há graduação. Quem nela se “diploma” faz perecer sua criatividade, na
medida em que não mais possui a capacidade de ficar assombrado com os mistérios que a norteiam.
Tudo se torna comum para ele, nada havendo que o anime e o instigue. Nessa escola, o melhor aluno não é aquele que tem consciência do quanto sabe, mas do quanto não sabe. Não é aquele que proclama a sua perfeição, mas o que reconhece suas limitações. Não é aquele que proclama a sua força, mas o que educa a sua sensibilidade.
Todos temos momentos de hesitação e insegurança. Não há quem não sinta o medo e a ansiedade em
determinadas situações. Não há quem não se irrite diante de determinados estímulos. Todos temos
fragilidades. Só não as enxerga quem é incapaz de viajar para dentro de si mesmo. Uns derramam
lágrimas úmidas; outros, secas. Uns exteriorizam seus sentimentos; outros, numa atitude inversa, os
represam. Alguns, ainda, superam com facilidade determinados estímulos estressantes, parecendo
inabaláveis, mas tropeçam em outros aparentemente banais.
Diante da sinuosidade da vida, como podemos avaliar a sabedoria e a inteligência de alguém:
quando o sucesso lhe bate à porta ou quando enfrenta o caos?
É fácil expressar serenidade quando nossas vidas transcorrem num jardim, difícil é quando nos
defrontamos com as dores da vida. Os estágios finais da vida de Cristo foram pautados por dores e
aflições. Teria ele conservado seu brilho intelectual e emocional nas suas causticantes intempéries?
O mestre brilhou na adversidade: uma síntese das funções da sua inteligência
No primeiro livro estudamos a inteligência insuperável de Cristo. Ele não freqüentou escola, era um
simples carpinteiro, mas para nossa surpresa expressou as funções mais ricas da inteligência: era um
especialista na arte de pensar, na arte de ouvir, na arte de expor e não impor as idéias, na arte de pensar antes de reagir. Era um maestro da sensibilidade e um agradável contador de histórias. Sabia despertar a sede do saber das pessoas, vaciná-las contra a competição predatória e contra o individualismo, estimulá-las a serem pensadoras e a desenvolver a arte da tolerância e da cooperação social. Além disso, era alegre, tranqüilo, brando, lúcido, coerente, estável, seguro, sociável e, acima de tudo, um poeta do amor e um excelente investidor em sabedoria nos invernos da vida.
Cristo foi visto ao longo dos séculos como um sofredor que morreu na cruz. Tal conceito é pobre e
superficial. Temos de analisá-lo na sua grandeza. Apenas no parágrafo anterior listei vinte características notáveis da sua inteligência. Quem na história expressou as características do mestre de Nazaré?
Raramente alguém reúne meia dúzia dessas características em sua própria personalidade. Elas são
universais, por isso foram procuradas de forma incansável pelos intelectuais e pensadores de todas as
culturas e sociedades.
Apesar de Cristo ter possuído uma complexa e rica personalidade, dificilmente alguém fala
confortavelmente dele em público, tal como nas salas de aula de uma universidade ou numa conferência de recursos humanos. Sempre que nele se fala há o receio de que se esteja vinculando-o a uma religião.
Entretanto, é necessário discorrer sobre ele de maneira aberta, desprendida e inteligente. Aquele que teve a personalidade mais espetacular de todos os tempos tem de ser investigado à altura que merece. Porém, infelizmente, até nas escolas de filosofia cristã, sua vida e sua inteligência são pouco investigadas, quando muito são ensinadas nas aulas de ensino religioso.
Há pouco tempo, minha filha mais velha mostrou-me um livro de história geral. Por estranho que
pareça, este livro resumiu em apenas uma frase a vida daquele que dividiu a história da humanidade.
Como isto é possível? Nele, apenas relata-se que Jesus havia nascido em Belém na época do imperador romano Augusto e morrido na época de Tibério. Nem os livros de história o honram.
A superficialidade com que a história tratou Jesus Cristo, bem como outros homens que brilharam
na sua inteligência, é um dos motivos que conduzem os jovens de hoje a não crescer, em sua maioria,
no rol dos que pensam.
Os educadores não têm conseguido extrair o brilho da sabedoria de Cristo. Não conseguem inseri-lo
nas aulas de história, de filosofia, de psicologia. Eles são tímidos e contraídos, não conseguem dizer aos alunos que irão discorrer sobre Jesus sem uma bandeira religiosa, mas ressaltando a sua humanidade e sua complexa personalidade. Eu realmente creio que, mesmo numa escola que despreza qualquer valor espiritual, como aconteceu na Rússia, o ensino sistemático da história de Cristo poderia revolucionar a maneira de pensar dos seus alunos.
Até mesmo nas escolas de filosofia budista, hinduísta, islamita, judia, se fossem ensinadas as
características fundamentais da inteligência do mestre de Nazaré, tanto aos alunos do ensino
fundamental como aos do ensino médio e universitário, os estudantes teriam mais condições de se
tornarem pensadores, poetas da vida, homens que irrigariam a sociedade com solidariedade e sabedoria.